Izabel quebrou estereótipos ao longo da vida com diagnóstico de síndrome de Down. Independente, aos 30, mostra a importância da inclusão social e superação.
De forma inesperada, durante um acompanhamento médico com um geneticista renomado, a professora aposentada Maria de Lourdes Sousa Oliveira, atualmente com 65 anos, recebeu o diagnóstico de síndrome de Down. Naquela ocasião, ela contava com 40 anos e já estava casada há uma década.
Em virtude de sua condição genética, Maria de Lourdes foi erroneamente rotulada com o termo antiquado de mongolismo, o que gerou certa incompreensão por parte de alguns familiares e amigos. No entanto, com o passar dos anos, ela pôde demonstrar toda a sua capacidade e talento, descontruindo estereótipos e inspirando aqueles ao seu redor.
Diagnóstico de síndrome de Down: a jornada de Izabel
Queria muito ser mãe e, diante da dificuldade de conseguir engravidar, com a ajuda de um dos irmãos procurou um especialista para investigar sua possível infertilidade, sem nunca ter suspeitado da alteração genética causada por uma divisão celular atípica, que resulta na trissomia do cromossomo 21.
Ao ser avaliada, Izabel ouviu do médico que não poderia ser mãe porque tinha ‘mongolismo’ – um termo pejorativo usado há muitos anos para falar sobre alguém com síndrome de Down.
Desafios da infertilidade e diagnóstico de síndrome de Down
De fato, há poucos registros de casos de mulheres com Down que se tornam mães (a diminuição da fertilidade é uma das consequências da síndrome, principalmente em relação aos homens), mas Izabel contrariou as evidências científicas e, menos de um ano depois da consulta, se tornou mãe de Cristinna, uma menina sem Down, e hoje é avó de três crianças
A dona de casa cresceu e viveu boa parte da vida sem o diagnóstico.
Impacto da síndrome de Down na vida rural
Ela conta que isso aconteceu provavelmente por viver na zona rural de Morrinhos, no interior de Goiás, e ser a caçula de 19 filhos.Izabel com o marido, a filha Cristinna e os netos. Foto: Arquivo pessoal’Ela morava na roça e era a caçula de uma família gigantesca.
Estímulos caseiros e deficiência intelectual
As dificuldades comuns em pessoas com a síndrome, como dificuldade para começar a andar ou a falar, eram atribuídas ao fato de ela ser a criança mais nova e ser muito mimada. Diziam que ela demorou a andar porque toda hora estava no colo de alguém.
Demorou a falar porque alguém sempre respondia por ela’, conta a administradora de empresas Cristinna Maria Cândida da Silva, 33 anos, filha de Izabel.
Independência e inclusão social na síndrome de Down
À medida que foi ficando mais velha, a deficiência intelectual passou a ficar mais evidente.
A filha conta que Izabel teve outros relacionamentos, mas se apaixonou mesmo pelo seu José, que, por acaso, também é parte daquela família gigante (ele é primo de Izabel).
Os dois se casaram quando ela tinha 26 anos e logo se mudaram para a cidade – ele foi trabalhar na prefeitura e ela ficou cuidando da casa.
Longevidade e cuidados na síndrome de Down
Estudos internacionais apontam que, nos últimos 40 anos, a expectativa de vida de pessoas com Down aumentou consideravelmente. Na década de 1920, girava em torno de nove anos. Na década de 1980, aumentou para entre 25 e 30 anos. Hoje em dia está entre 60 e 65 anos.
As pessoas com Down estão cada vez mais longevas e se tornando idosas. Para comparação, a expectativa de vida ao nascer da população geral é de 75,5 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desafios e estereótipos na síndrome de Down
No mês de março é marcado pela campanha sobre a importância da conscientização da população sobre a condição, a inclusão e a busca pelas mesmas oportunidades educacionais e sociais para todos.
Outra questão muito importante, ressalta a médica, é acabar com a infantilização de pessoas com Down, especialmente no sistema de saúde.
‘Muitas vezes, o profissional de saúde se dirige ao acompanhante e não à pessoa com Down. Isso porque ainda existe o mito de que eles são ‘eternas crianças’. Confundem muito a questão da deficiência intelectual com a impossibilidade de essas pessoas terem comportamentos e atividades compatíveis com sua idade cronológica.
Fonte: @ Estadão
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