Textos de saúde assinados por médicos brasileiros alertam sobre a relação entre o álcool e o surgimento de tumores. Estudos destacam o risco relativo condicionado ao volume ingerido.
Mesmo com os avanços na área da saúde, o câncer ainda é uma das maiores preocupações da sociedade atual. Anualmente, mais de 19 milhões de indivíduos são afetados pela doença e 10 milhões não resistem, representando uma em cada seis mortes no mundo.
O consumo excessivo de álcool pode aumentar o risco de desenvolver câncer. Portanto, é importante moderar o consumo de bebidas alcoólicas para reduzir as chances de enfrentar essa doença tão devastadora. Cuide da sua saúde e evite fatores de risco que possam desencadear o câncer.
Impacto global do câncer e a importância da prevenção
Dois terços delas ocorrem em países de rendimento baixo e médio, onde o câncer é frequentemente diagnosticado tardiamente e o acesso ao tratamento é limitado. É previsto que o fardo global anual do câncer aumente para mais de 28 milhões de casos até 2040. Estas estatísticas sombrias suscitaram apelos mundiais para reduzir a mortalidade por câncer em um terço na próxima década.
E o fundamental para que isso aconteça é a prevenção primária, a detecção precoce e o tratamento do câncer, ou de suas lesões precursoras, o mais cedo possível. As bebidas alcoólicas acompanham a história do homem e estão associadas a ocasiões festivas, religiosas, recreacionais, mas também a episódios de abuso e doença (alcoolismo).
A discussão sempre gira em torno da ponderação sobre seus eventuais benefícios e potenciais riscos. A alegação de que o vinho é rico em resveratrol, um famoso composto natural que possui diversas propriedades benéficas à saúde, parece não se sustentar quando contrabalançada pelos efeitos nocivos do álcool. O álcool é um agente cancerígeno conhecido que aumenta o risco de vários tipos de câncer.
Um relatório da American Association for Carcer Research (AACR) atribui ao consumo de bebidas a terceira posição nas causas de tumores, perdendo apenas para o tabagismo e o excesso de massa corporal. Conforme o relatório do Global Burden of Disease (GBD), o álcool é o segundo fator de risco mais importante em homens e o sétimo em mulheres.
Essa segunda colocação tem se mantido estável há mais de uma década.
Impacto do álcool na incidência de câncer
Numa revisão da literatura médica em que foram identificados 572 estudos, incluindo dados de 486.538 casos de câncer, os riscos relativos para quem bebe com alta frequência em comparação com não bebedores e bebedores ocasionais foram 5,13 para câncer oral e faríngeo, 4,95 para carcinoma espinocelular de esôfago, 1,44 para colorretal, 2,65 para câncer de laringe e 1,61 para câncer de mama.
Há uma clara relação entre dose e risco – quanto maior a ingestão, pior. Os bebedores pesados tinham um risco significativamente maior de câncer de estômago, fígado, vesícula biliar, pâncreas e pulmão. Também houve indicação de associação positiva entre consumo de álcool e risco de melanoma e câncer de próstata.
Vale lembrar que o ‘grau’ de percentagem alcoólica impresso em todos os rótulos de bebidas é a fração em volume (em quantidade de mililitros de álcool absoluto) contida em 100 mililitros de mistura hidroalcóolica. Uma taça de vinho com 120 ml, (em média 12ºGL) contém 14,4g de álcool, uma lata de cerveja de 330ml (5ºGL) contém 16,5g, e um copo de destilado (30ml a 40ºGL) contém 12g de álcool.
Globalmente, estima-se que 741.300, ou 4,1% de todos os novos casos de câncer em 2020, foram atribuíveis ao consumo de álcool. Os homens representaram 76,7% do total desse montante.
Associação entre consumo de álcool e risco de câncer
Em relação ao câncer de mama, o risco relativo pode dobrar para as pacientes com consumo de 36g/dia de álcool em relação às abstêmias. Uma revisão de estudos sobre o consumo de álcool e o risco de desenvolvimento de câncer de mama mostra riscos crescentes com o aumento do consumo.
Interpretamos esses resultados não como uma prova de causalidade, mas como um forte apoio a uma associação entre o consumo de álcool e o risco de vários tumores. Nós nos expomos diariamente a várias substâncias carcinogênicas, mas, quanto mais as evitarmos, melhor. Nesse sentido, o uso eventual de bebidas alcoólicas pode ser tolerável, mas deveria ser evitado o máximo possível.
* Ricardo Caponero é oncologista e médico do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo Compartilhe essa matéria via: WhatsAPP Telegram
Fonte: @ Veja Abril
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