Fatores domésticos explicam a divergência recente, que provavelmente persistirá no curto prazo, influenciada por fluxos globais de capital, taxas de juros e níveis de desemprego.
No Brasil, um fenômeno econômico incomum tem chamado a atenção: uma alta dos juros em um momento em que muitos países, tanto desenvolvidos quanto emergentes, estão experimentando uma redução nos juros. Essa tendência oposta é um desafio para a política econômica do país.
A alta dos juros no Brasil é um reflexo da política monetária adotada pelo Banco Central, que busca controlar a inflação e manter a estabilidade econômica. No entanto, essa medida pode ter um impacto negativo sobre a economia, especialmente se as taxas de juros permanecerem altas por um período prolongado. Além disso, a alta dos juros pode afetar a capacidade de pagamento dos empréstimos, tornando-os mais caros e aumentando o juro pago pelos consumidores. Em um cenário ideal, a política monetária deveria ser neutra, sem influenciar excessivamente a economia, mas a realidade é que as decisões do Banco Central têm um impacto significativo sobre a economia do país. A chave é encontrar um equilíbrio entre a estabilidade econômica e o crescimento sustentável.
Revisão das Taxas de Juros Globais
Em todo o mundo, vários países têm reduzido suas taxas de juros nos últimos meses, especialmente os países desenvolvidos que têm um impacto significativo nos fluxos globais de capital, como os Estados Unidos e a Zona do Euro. A redução das taxas de juros dessas economias está mais relacionada a uma convergência gradual da inflação para níveis mais próximos das metas de longo prazo dos bancos centrais do que a dados fracos de atividade ou do mercado de trabalho.
Nesse sentido, trata-se mais de um processo de retorno das taxas para níveis de juro neutro mais próximos aos estimados pelas respectivas autoridades monetárias do que de uma necessidade de caminhar para uma política estimulativa. É importante notar que essas economias, em especial os Estados Unidos, continuam a operar com baixos níveis de desemprego para seus padrões históricos, baixa ociosidade dos fatores de produção e aumentos salariais ainda acima dos padrões consistentes com as metas de inflação estabelecidas para os próximos anos.
Impacto dos Juros na Economia
A queda dos juros tende a ser cautelosa e em montante limitado, com tendência à manutenção dos juros no campo contracionista por um período ainda relevante. Três fatores criam dificuldades adicionais para uma queda mais intensa das taxas: a alta dos preços de ativos, em especial do mercado acionário norte-americano, que produz um efeito riqueza que tende a sustentar o consumo em nível mais pressionado; as maiores restrições aos fluxos comerciais e migratórios globais, que reduzem, de certa forma, o potencial de novos ganhos de produtividade e de competitividade que ancorem os custos à inflação global em níveis menores; e as próprias incertezas geopolíticas, com tensionamento militar em muitos países e regiões e que fragmentam ainda mais as cadeias produtivas e criam riscos de novos choques de oferta desfavoráveis para determinadas commodities.
Tudo isso tende a reforçar uma atitude ainda cautelosa dos bancos centrais nessa reversão das políticas monetárias restritivas dos últimos anos, levando-os a buscar, no máximo, uma volta à neutralidade, e não o alcance de patamares de juros expansionistas.
A Situação no Brasil
No Brasil, por sua vez, os juros voltaram a subir em setembro, de 10,50% para 10,75%, e todos os sinais apontam para mais alguns ajustes em função da atividade econômica bastante aquecida e da inflação acima da meta e sem perspectiva de convergência para as metas propostas para os anos vindouros. Com relação à atividade econômica, os dados de desemprego do PNAD estão no menor nível da série histórica, de apenas 6,8%. A população desocupada, aquelas pessoas que buscam emprego, mas não encontram, também está no menor nível da série, em 7,4 milhões de pessoas, sendo mais uma evidência do superaquecimento atual do mercado de trabalho.
Esse mercado de trabalho a todo o vapor tem implicações importantes também sobre a dinâmica salarial, que cresce em ritmo intenso, de 4,8%, bem acima, portanto, da meta de inflação de 3,0% para 2025, o que pode levar a uma pressão adicional sobre os juros.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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