Jovens periféricos se esforçam em cursos de graduação trabalhando nas redes de lanchonetes para pagar. Mal dá tempo de frequentar as aulas e resolver dilemas educacionais.
Na última década, o Brasil viveu um tempo de profunda transformação em suas relações de trabalho. Um dos principais desafios enfrentados pelos trabalhadores foi a implementação da escala 6×1 em diversas empresas. Esse modelo de trabalho, que envolve 6 dias de trabalho e 1 dia de folga, gerou protestos em várias cidades do país. Em São Paulo, a Avenida Paulista e no Rio de Janeiro, na Cinelândia, foram palco de manifestações contra essa flexibilização das jornadas de trabalho.
Como professor de faculdade há 15 anos, posso afirmar que o tempo de trabalho é fundamental para o equilíbrio pessoal e profissional. A escala 6×1 pode parecer atraente para alguns, mas a verdade é que ela pode levar a um desgaste físico e mental. Além disso, a escala de trabalho pode afetar a produtividade e a qualidade do trabalho realizado. Em um tempo em que a competitividade é cada vez maior, é fundamental encontrar um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal. A escala 6×1 não é necessariamente a solução para todos, e é importante considerar as implicações a longo prazo antes de implementá-la em uma empresa.
Tempo É Oração
Em pleno período de aula, observo a chegada de jovens periféricos em minha sala de aula, muitos deles alcançaram a universidade em instituições particulares da capital paulista e Região Metropolitana. Notícias relacionadas Sempre sonhei em estudar na USP, diz aluna de engenharia da favela São Remo, Levei pelo menos dois anos para entrar na USP, diz aluno da favela vizinha, Cria da favela, aluno de Arquitetura ‘não sabia o que era USP’. Eles enfrentam desafios não apenas na universidade, mas também no mercado de trabalho, onde a escala de trabalho 6×1 é uma grande dificuldade para atender ao mínimo de tempo que um curso superior exige. A escala 6×1 escravizante, na verdade, torna estudar um luxo que jovens periféricos não podem se dar.
Em uma vida gasta principalmente no trânsito (quatro horas), trabalho (oito horas), faculdade (três horas, mais ou menos de sete até dez da noite), os jovens periféricos encontram dificuldade em conciliar o básico, como ler textos indicados pelos professores e fazer trabalhos. Na maioria dos cursos de graduação, são de três a cinco disciplinas por semestre, tornando a vida ainda mais complicada. Aí vem o meritocrata e diz ‘tem que estudar no dia livre, varar madrugadas’. Não é possível, embora há quem faça, pelos motivos mais justificáveis do mundo. A verdade é que falta tempo para tudo, mesmo para descansar corpo e mente, ler um livro, ir ao cinema, construir de fato uma formação cultural mínima. E não por dilemas educacionais profundos, complexos, não; simplesmente pela falta de tempo, uma questão cruamente matemática, lógica.
Fonte: @ Terra
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