Ambiente virtual pode ser ferramenta de prevenção ao suicídio, ajudando a lidar com transtornos mentais e servindo como mecanismo de fuga saudável da vida real, promovendo a saúde mental no mundo virtual.
A estudante de jornalismo Milena Dias, que cursa a faculdade em Brasília, é uma exceção em meio à era digital. Ela não possui nenhuma rede social e afirma que isso não a incomoda. A internet é uma ferramenta poderosa, mas Milena prefere manter uma distância segura do mundo virtual. Ela acredita que, em algum momento, pode mudar de ideia, mas por enquanto, gosta de não fazer parte desse ambiente online.
Para Milena, a internet é um mundo separado da realidade, e ela não sente falta de postar fotos ou ver as postagens dos outros. Ela prefere se concentrar em suas atividades diárias e manter contato com amigos e familiares de forma mais tradicional. Além disso, ela acredita que as plataformas online e as redes sociais podem ser uma distração e um obstáculo para o desenvolvimento pessoal. A rede mundial de computadores é uma ferramenta útil, mas não é a única forma de se conectar com as pessoas e com o mundo ao redor.
O Mundo Virtual e a Saúde Mental
A internet é um ambiente único, cheio de estereótipos e exposição constante. Para a estudante de nutrição Maria Eduarda Nestali, que mora na capital federal, as redes sociais são uma ferramenta importante, mas ela é criteriosa com os conteúdos que assiste. ‘Eu tenho WhatsApp, Instagram, TikTok, mas sou bem seletiva com o que eu vejo’, pondera Maria Eduarda.
Estudos indicam que o impacto da internet na saúde mental pode ser tanto positivo quanto negativo, dependendo da forma como ela é utilizada. A necessidade de permanecer conectado à rede mundial de computadores preocupa especialistas, que apontam a relação entre o consumo excessivo das plataformas online e transtornos mentais como depressão e ansiedade.
A Relação entre a Internet e a Saúde Mental
Foi buscando uma resposta para o que acontecia com estudantes da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) que a professora Irena Penha Duprat resolveu aliar o interesse pelo uso excessivo da internet à pesquisa sobre a chamada ideação suicida. Este ano, ela defendeu, na Universidade de São Paulo (USP), a tese O Papel da Internet na Saúde Mental de Jovens Universitários e sua Relação com Ideação Suicida.
Irena Duprat observou, em 2017 e 2018, um aumento no número de alunos com problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, e algumas tentativas de suicídio, o que, segundo ela, era muito preocupante. ‘Queria saber se o uso excessivo influenciava no pensamento suicida do estudante’, explica. Foram entrevistados 503 alunos de seis cursos da área de saúde.
‘Eles responderam alguns questionários e, entre eles, um teste sobre dependência de internet e um sobre ideação suicida, além da questão sociodemográfica para conhecer o perfil de cada estudante’, conta Irena. Cerca de 51% dos estudantes foram classificados com algum tipo de dependência: leve, quando a pessoa usa muito a internet, mas tem a percepção disso e consegue parar; e moderada e grave, quando já não há essa percepção.
O Uso Excessivo da Internet como Mecanismo de Fuga
Irena explica que, nesses dois últimos casos, a dependência é comparada a qualquer outra, sem limites. ‘No caso da ideação suicida, no questionário, a gente teve uma prevalência de 12,5% de estudantes com ideação presente’, revela. Onze dos entrevistados com sintomas depressivos apresentaram maior frequência de ideação suicida, assim como aqueles com nível de ansiedade alto.
Ainda de acordo com a pesquisa, a ideação suicida foi maior entre estudantes que reportaram dependência moderada ou grave da internet. ‘O uso da internet [é] como um mecanismo de fuga para diversas situações da vida deles. Principalmente aqueles que relataram problemas como depressão, ansiedade, estresse. Eles usavam na verdade a internet como um refúgio para fugir dos problemas’, aponta a professora Irena Duprat.
O impacto negativo também é sentido no caso da exposição em mídias sociais como Instagram e Facebook, sobretudo na saúde mental das mulheres. A professora diz que, para as jovens, é ‘algo que influenciava na questão do pensamento suicida, principalmente em relação a esses conteúdos que são apresentados nas redes sociais’.
Fonte: @ Agencia Brasil
Comentários sobre este artigo